quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Por que listar os campeões brasileiros de futebol?


Por três motivos: porque é possível fazer uma lista sem clubismos, baseada apenas em fatos e bom senso; porque o campeonato brasileiro de futebol, de fato, existe desde 1950; não, desde 2003, ou 1989, ou 1971, ou 1967 ou 1959; e porque a definição de um campeão brasileiro está intimamente ligada à criação da Copa Libertadores.

Este site, pois, ao buscar conciliar as três premissas acima, assume postura totalmente nova no debate sobre quais são os campeões brasileiros e quantos títulos cada clube possui.

Os Campeonatos Brasileiros de Futebol

I. A Liga Nacional

É fato que houve tentativas anteriores a 1950 (a última que conseguiu apontar um campeão foi em 1936), mas foi somente nesse ano que se estabeleceu, de maneira praticamente ininterrupta (a exceção de 1956), um campeonato interestadual de clubes no país. O torneio após um período de consolidação em que se manteve regional, a partir de 1967, com o esgotamento do modelo anterior, iniciou expansão gradual até a farra dos anos 70. Assim, a liga, primeiramente, contava apenas com clubes da Guanabara e de São Paulo; depois, também com gaúchos, mineiros e paranaenses (1967); e baianos e pernambucanos (1968). Até 1970, a classificação ficava a critério das federações estaduais, geralmente considerando a classificação no campeonato regional do ano anterior.

Em 1971, o que houve apenas foi o fato de a CBD/CBF encampar um torneio que já existia e trocar-lhe o nome. Só o que a CBD fez foi acrescentar representação do Ceará. De resto, manteve os clubes e os estados participantes do Robertão/Taça de Prata. Houve igualmente uma "Segunda Divisão", mas sem rebaixamento, nem Acesso. Logo, as mudanças em relação ao ano anterior (Taça de Prata de 1970) foram: a organização pela CBD; a fórmula da disputa; a mudança do nome; uma Segunda Divisão, e a participação de uma equipe do Ceará. Para que a tese de que o Campeonato Brasileiro tenha começado somente em 1971, alguma dessas mudanças DEVE ser ESSENCIAL, seja o conjunto delas ou apenas uma delas:

a) a organização pela CBD não pode ser, pois a Taça Brasil também era e ela já existia antes de 1971;
b) a fórmula da disputa não pode ser, pois só foi utlizada em 1971;
c) a mudança do nome não pode ser, pois houve alteração em 1975, 1981, 1989, etc;
d) uma Segunda Divisão não pode ser porque ela foi abandonada entre 1973 e 1979;
e) a participação do Ceará, mas essa dever ser descartada porque esse estado também tinha representação na Taça Brasil.

Não há motivo nenhum para se estipular 1971 como início do campeonato nacional. Principalmente, se considerar-se o fato de que desde 1968, a CBD já participava da organização e concedia a Taça de Prata ao campeão do Robertão.

A expansão no número de participantes e a inclusão de novo estados seguiu-se até 1979. Em 1972, o critério de participação seguiu sendo convite, mas os estados de AL, SE, RN, AM e PA passaram a ter representante. Em 1973, voltou-se a ter divisão única, e todos os Estados passaram a ter representante. Em 1975, houve nova mudança de nome, e de "Campeonato Nacional de Clubes" passou a ser "Copa Brasil". Em 1979, o modelo chega ao seu limite. A liga é disputada por 96 clubes, com os paulistas, a exceção de Palmeiras e Guarani, recusando-se a participar.

Em 1980, há uma nova transformação, inspirado no antigo Rio/São Paulo e na Taça Brasil, o critério de participação passou a ser a campanha no Estadual. Em 1981, nova mudança de nome, entrando em cena a "Taça de Ouro" (basicamente o nome até 1986). Estabelece-se um campeonato com dois grupos, um de "Grandes" e outro de "Pequenos"; algo que se repete em 1987, 1993 e 2000. Em 1985, a CBF criou um ranking e o utilizou como critério de participação, além da campanha no Estadual, como faz agora na Copa do Brasil.

Em 1987, os grandes clubes do Brasil não suportam mais a forma como o campeonato é organizado, e rompem com a CBF. É disputada a Copa União, só com os grandes e convidados, e esses se recusam a disputar o título nacional contra os clubes do torneio da Confederação. Em 1988, sela-se a paz que permite a criação do Campeonato Brasileiro no ano seguinte.

Em 1989, tem-se a primeira edição do Campeonato Brasileiro de Futebol com esse nome, com primeira e segunda divisões, acesso e descenso, etc. Apenas em 2000, a CBF nega-se a organizar o torneio, que fica a cargo do Clube dos 13 (Copa João Havelange). Em 2003, ocorre a última mudança significativa, com a implementação de um campeonato em turno-e-returno por pontos corridos.

Assim, é possível determinar as fases de desenvolvimento da liga nacional:
a) Tímidas tentativas: até 1936.
b) Hiato (em que se houve tentativas, nenhuma apontou campeão): de 1937 a 1949.
c) Consolidação (limitada a Rio e São Paulo): de 1950 a 1966;
d) Expansão e Inclusão: de 1967 a 1979;
e) Volta às Origens (classificação pelos estaduais): de 1980 a 1986;
f) Turbulência: de 1987 a 1988;
g) I Campeonato Brasileiro (com fase classificatória e finais): de 1989 a 2002;
h) II Campeonato Brasileiro (pontos corridos em turno-e-returno): desde 2003.

Todos essas fases, a exceção de "Hiato", por razões óbvias, possuem argumentos para serem contabilizadas como marco para o início de contagem dos títulos nacionais. Note-se, porém, que nenhuma inicia em 1971. Para este site, pelos motivos expostos, considera-se o marco inicial de contagem de títulos em 1950. Sendo assim, entende-se que todos os campeões da liga nacional desde esse ano são campeões brasileiros.

Porém, isso trata apenas parte do problema. É impossível falar de campeões brasileiros sem tratar da Taça Brasil e do surgimento da Copa Libertadores em 1960.

II. As Taças e a Libertadores
A idéia de se ter um campeão nacional, em primeiro lugar, surgiu com a necessidade de se indicar um representante brasileiro a Libertadores. Esse é o motivo da criação da Taça Brasil em 1959, que veio substituir o Campeonato Brasileiro (torneio em mata-mata entre seleções estaduais). À época, quando se iniciou o torneio, ele era o verdadeiro campeonato nacional, sendo o seu campeão reconhecido como campeão brasileiro de fato e de direito.

O fato de a Taça Brasil ter sido extinta após perder força pelas transformações ocorridas no Brasil, que abriram a possibilidade da ampliação do Roberto Gomes Pedrosa e o estabelecimento de uma liga mais abragente nacionalmente, não lhe retira os méritos, nem lhe apaga a história. A perda da queda-de-braço com a liga e a sua extinção não afastam o que ela foi: um torneio para estabelecer um campeão nacional e o(s) representante(s) do Brasil na Libertadores. Não há diferença, portanto, entre um campeão da Taça Brasil e o campeão do Campeonato Brasileiro de 2008.

Em 1989, há uma nova transformação do futebol brasileiro que passa despercebida por muitos: surge um "Campeonato Brasileiro de Futebol" com esse nome. Como a classificação para a liga nacional deixa de ser feita através dos estaduais, é criada a "Copa do Brasil" para cumprir essa função. Depois de 21 anos, o Brasil passaria a ter novamente dois torneios nacionais. Ademais, ambas competições receberam o mesmo peso: seus campeões seriam os representantes brasileiros na Libertadores. Novamente, competições nacionais são estabelecidas com o objetivo de determinar os campeões brasileiros para representarem o país na competição sul-americana.

A Copa do Brasil sofreu diversas mudanças na medida em que foi modificando sua importância -para mais e para menos. Porém, nunca seu campeão deixou de disputar uma Libertadores. Aliás, duante dez anos, entre 1989 e 1998, a Copa do Brasil e o Campeonato Brasileiro se equivaliam; a ponto de chegarem a ser disputados em semestres distintos.

Em 2000, a Taça Libertadores cresce, e o Brasil passa a ter 4 representantes. A CBF determina, em 1999, que sejam o campeão da Copa do Brasil e os 3 primeiros do Campeonato Brasileiro (o 3º colocado seria definido num torneio denominado "Seletiva para a Copa Libertadores"), os representantes nacionais da Libertadores do ano seguinte.

A partir de 2000, haveria uma nova competição: a Copa dos Campeões. A Copa dos Campeões era disputada pelos melhores times dos torneios regionais (Paulista, Carioca, Rio-São Paulo, Sul-Minas, Nordeste, Centro-Oeste e Norte), e essa também teria o seu campeão como representante brasileiro na Copa Libertadores. Tanto a "Seletiva" quanto a vaga para o 3º colocado do Campeonato Brasileiro desapareceram, ficando as vagas para os três campeões nacionais e o vice do Campeonato Brasileiro (ou da Copa João Havenlange).

O fato de a Copa dos Campeões ter sido extinta após perder força pelo fim dos campeonatos regionais e estabelecimento de um Campeonato Brasileiro em turno-e-returno por pontos corridos, não lhe retira os méritos, nem lhe apaga a história. A perda da queda-de-braço com a liga e a sua extinção não afastam o que ela foi: um torneio para estabelecer um campeão nacional e um representante do Brasil na Libertadores. Déjà vu? Pois guardadas as proporções a história é mesmo similar à da Taça Brasil.

Por essa vinculação histórica e direta entre os campeões brasileiros e a Copa Libertadores é que se incluiu na classificação abaixo, todos os campeões de torneios que classificaram à competição sul-americana; Taça Brasil, Copa do Brasil e Copa dos Campeões incluídas. Além da Taça Brasil de 1968, porque não teria qualquer motivo para incluir a competição e excluir uma de suas edições só porque não levava a Libertadores.

Considerando o que foi exposto, na listagem "Os 22 Campeões do Brasil no Futebol" abaixo, estariam todos os campeões brasileiros dignos desse nome.

9 comentários:

  1. Por que não suar como critério a classificação do time para a Taça Libertadores?
    Outra coisa, o Rio-São Paulo, como o nome diz, reunia só times de dois estados. Não pode ser considdrado umc ampeonato nacional.
    Concordo que o brasileiro começou a partir de 1959, com a primeira Taça Brasil, que dava a oportunidade de todos os Estados, ou quase todos, participarem.
    Entã, acho que devemos considerar Taça Brasil, Torneio Roberto Gomes Pedrosa/Taça de Prata e o Brasileiro (com seus vários nomes) a partir de 1971. Seria mais coerente e estaríamos comemorando 50 anos de campeões brasileiros!

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  2. Verbo,
    Obrigado por participar.

    Cremos que as respostas a essas perguntas encontram-se no próprio texto. No entanto, em breve, inauguraremos uma seção de respostas a perguntas freqüentes; onde teremos o prazer de esclarecer melhor esses pontos trazidos por você.

    Qualquer dúvida, pode escrever também para:
    campeoesbrasileiros@gmail.com

    Cordialmente,
    Os Campeões do Brasil

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  3. SITE FALCATRUA PRA JUSTIFICAR O PALMEIRAS , O GREMIO ESTA TURMA DE SEGUNDA

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  4. Diz a lenda que em 1971 houve um divisor de águas. Era inadmissível um país tri-campeão mundial de futebol não ter um campeonato nacional organizado. O que se fez de fato foi uma convenção.

    Os maiores clubes do país na época se reuniaram e decidiram que a contagem de títulos seria a contada a partir de 71 como que representando uma nova era no futebol.

    É claro que a época todos aceitaram, afinal começando do zero, todos teriam chances iguais de serem os maiores campeões do país, e esse foi o prinicpal argumento: todos com chances iguais!

    Acontece que com o passar dos anos alguns times não foram se dando tão bem assim nesses campeonatos, e agora como forma de quebrar o que foi acordado naquele de 71 começaram a ressucitar os campeonatos antigos.

    Mas o pensamento de torcedor é assim mesmo, movido por paixão e para sempre querer beneficiar seu clube ele é capaz de qualquer coisa, até mesmo esquecer de acordos que foram feitos por cavalheiros em tempos passados.

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  5. Caro Felipe,

    Gratos pela contribuição ao nosso humilde site. Gostaríamos de mais informações sobre esse acordo, pois o desconhecemos. Sabemos que para corintianos, santistas, flamenguistas, vascaínos e atleticanos, começar a contar a partir de 1971 foi uma “mão-na-roda” pois eliminaria títulos dos rivais. E tampouco entendemos porque apenas a partir de 1971 haveria chance para todos, se: mais de 90% dos clubes que disputaram o torneio em 1970 estavam no ano seguinte; e todos os clubes de primeira divisão estadual do Brasil disputavam o título da taça Brasil.

    Mas, mesmo que seja verdade, a contagem que fazemos vai além de acordos e recomeços. Afinal, a questão passaria a ser se tais acordos poderiam apagar a História? E, se vale acordos, por que não contar a partir de 2003? Note que começamos a contar a partir de 1950. Não aceitamos a tese de houve ruptura em 1971, e nem 1967.

    Abraço.

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  6. esqueceu o item f.

    f) a diferença que todo um país convencionou considerar que aquele ano (1971) iniciava-se uma nova era, uma nova competição.

    Isso é uma sutileza histórica. Coisa que quem não é historiador ou, ao menos, entenda um pouco disso não consegue atingir, pois mais lógicos e racionais sejam seus argumentos.

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  7. O comentário do Felipe foi perfeito. O que você (autor da página) não está conseguindo vislumbrar é a sutileza da coisa. Seus argumentos todos tem lógica, estão embasados. Vc tem uma "tese". OK. Agora pense bem no que você está fazendo: REVISIONISMO. Esse é o nome. Vc está criando uma teoria para entender como deve se proceder à unificação dos títulos com base em uma série de evidências, nessa investigação de características comuns. Vc não consegue é contemplar a história das mentalidades. Por que NAQUELA ÉPOCA se convencionou em estabecer o ano de 71 como marco inicial? Alterar isso agora é intelectualmente desonesto, é desprezar o passado e a percepção que as pessoas da época tinham desses campeonatos. A coisa não estava andando, os campeonatos regionais eram muito mais prestigiados. Era necessária uma mobilização para prestigiar um campeonato nacional e JAMAIS isso poderia ser feito considerando os campeonatos passados. E NINGUÉM na época esperneou querendo unificar os títulos. Até mesmo muito tempo depois, como em 1984 (aliás ano sugestivo para o tema, conforme nos lembra George Orwell), ninguém gritou "bi-campeão" para o Fluminense. A geração de hoje, que já está totalmente distante daquele passado, faz uma "grosseria" dessas de considerar tudo igual. Não era igual. Não tinha a mesma importância que hoje. Paradoxalmente, somente esta convenção de 71 que conferiu prestígio ao brasileirão. Sem essa ruptura, teríamos ano após outro de campeonatos secundários para os clubes. Mas agora, longe daquela era, é fácil canetar tudo...

    Meu nome é Alexandre, só estou conseguindo mandar msg como anonimo...

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  8. Prezado Alexandre,

    Antes de qualquer coisa, obrigado por participar. Todas as mensagens e argumentos são engrandecedores tanto para nós, quanto para o site.

    Nossa intenção é, sim, revisar as bases do que se consolidou como senso comum. Mas, não se trata de "revisionismo", por não termos interesses escusos nenhum nisso. Trata-se, apenas de responder a pergunta: "há fundamento na atual contagem de títulos brasileiros?". Nós acreditamos que essa pergunta é pertinente, sempre. Ela continua pertinente mesmo depois do nosso trabalho.

    A sua resposta à pergunta é a mesma feita pelo Felipe, acima: existe fundamento, sim; o acordo pós-1970. Nós desconhecemos tal pacto, mas, se foi isso mesmo o que aconteceu, é ainda melhor para o nosso trabalho. Se a atual contagem é fruto de acordo, ele pode ser alterada a qualquer momento. Basta que haja vontade em fazê-lo. Nesse caso, nossos argumentos simplesmente ajudariam a fundamentar um novo acordo.

    Abraço.

    Obs.: Sobre o prestígio do Brasileiro pós-1971, ele é auto-evidente, tanto que cada vez mais, mais clubes participavam dele. Ainda assim, em 1979, os clubes paulistas (a exceção de Palmeiras e Guarani, que entraram somente nas quartas-de-final), mesmo com todo o prestígio acumulado, resolveram ficar de fora. Algo que só acontecera antes na Taça Brasil de 1968...

    Obs. (2): Há indícios que a CBD reconhecia todos os títulos desde 1967, como se pode ver neste documento, de 1972, postado no Yougol.

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